Milanovic, B. (2016). Global Inequality. A New Approach for the Age of Globalization. Cambridge: Harvard University Press.
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Resumo
A obra de Branko Milanovic, "Desigualdade Global: Uma Nova Abordagem para a Era da Globalização", é monumental ao aprofundar nas complexidades da disparidade econômica na era contemporânea. Com agudeza e erudição, Milanovic apresenta uma abordagem multidimensional para compreender a desigualdade, integrando aspectos da globalização, mobilidade social e políticas econômicas. Essa análise abrangente desafia as expectativas convencionais sobre a globalização e seus impactos na igualdade, revelando a lacuna entre previsões otimistas de décadas passadas e a realidade atual de crescentes disparidades econômicas.
Numerosos estudos tentaram explicar de maneira coerente o aumento da desigualdade desde a década de 1980, no contexto mais amplo da globalização. As previsões relacionadas a esse fenômeno têm sido pouco convincentes, especialmente considerando que nas décadas de 1960 e 1970 previa-se que a globalização geraria paisagens mais igualitárias à medida que o desenvolvimento avançasse. Essa aparente contradição motivou vários cientistas sociais a abordar a questão a partir de disciplinas diferentes, como história, economia e sociologia, na tentativa de resolver essa complexidade.
A tese central de Milanovic é clara desde o início do livro: a globalização transformou as estruturas da desigualdade em todo o mundo e requer uma nova abordagem analítica. O autor pretende desvendar as complexidades desse fenômeno, explorando as conexões entre globalização, renda e distribuição de riqueza. Seu objetivo é fornecer uma perspectiva abrangente que transcenda as limitações das abordagens convencionais da desigualdade. Assim, ele estrutura sua análise com base em uma ampla gama de dados econômicos e sociais, usando metodologias rigorosas para avaliar a desigualdade global. Ele combina dados históricos com informações contemporâneas, adotando uma abordagem longitudinal que permite identificar padrões e tendências ao longo do tempo. Além disso, ele propõe uma medida inovadora: o Gráfico do Elefante, para visualizar disparidades de renda globais, destacando as experiências divergentes de diferentes estratos da sociedade.
O autor aborda magistralmente as raízes e ramificações da desigualdade, explorando como fatores como tecnologia, migração e políticas governamentais contribuem para as lacunas econômicas. Seu foco no índice de Palma adiciona uma dimensão única à análise, lançando luz sobre a concentração de renda nos estratos mais altos da sociedade. Isso é um testemunho da força do livro, residindo na habilidade de Milanovic de traduzir teorias econômicas complexas em conceitos acessíveis. Ele não apenas permanece nas reflexões teóricas, mas também examina as implicações práticas e as consequências sociais da desigualdade global. Para isso, ele implementa narrativas de casos específicos, guiando o leitor por uma jornada intelectual que lança luz sobre as forças subjacentes que moldam a distribuição de renda global.
Ir além das reflexões teóricas permite explorar as consequências tangíveis da desigualdade na sociedade, analisando como ela afeta a coesão social, a mobilidade e a estabilidade política. Ao fazer isso, ele fornece uma visão abrangente da complexidade desse fenômeno global, destacando a urgência de abordar essas disparidades para construir um futuro mais equitativo. Portanto, entre o amplo espectro de estudiosos que abordaram essa questão, Milanovic se destaca por seu foco em ondas ou ciclos de desigualdade, desafiando críticas de outros teóricos como Thomas Piketty. Assim, ele realiza uma crítica a pensadores como Wilkinson, Pickett, Stiglitz, Bauman, Therborn, Atkinson, Bourguignon, entre outros, e a instituições notáveis como a OCDE, argumentando que eles coincidiram ao apontar que as desigualdades tendem a diminuir em situações extremas como guerras, epidemias e outras calamidades globais. No entanto, reconhecem a paradoxalidade de que essas tragédias também podem ser consequência de um aumento prévio na desigualdade, financiado com quantias consideráveis de riqueza e, infelizmente, às custas de milhões de vidas humanas. Daí ele concorda parcialmente com Kuznets no sentido de que o capitalismo pós-industrial reduz as desigualdades.
Sua perspectiva histórica e sua habilidade em desdobrar a desigualdade em nível nacional e internacional proporcionam uma compreensão abrangente da problemática. Assim, ele defende abordar
as raízes da desigualdade por meio de uma de suas realizações notáveis: sua proposta de solução baseada no que ele chama de predistribuição de ativos e acesso à educação; isso o diferencia de abordagens centradas em impostos e gastos elevados. Seguindo sua análise histórica, Branko Milanovic destaca a ascensão simultânea da classe média nos países em desenvolvimento e da plutocracia global, contrastada com a diminuição da classe média ocidental e o abandono dos mais desfavorecidos. Esse enfoque permite que ele trace uma perspectiva geral da desigualdade global, desmembrando-a depois em estudos detalhados em nível de cada nação e entre elas. Isso permite que ele sustente que os níveis e as dinâmicas de desigualdade estão transformando a democracia no Ocidente, levando o gasto estatal a mudar seu foco de fornecer serviços para o financiamento de medidas de controle policial e segurança destinadas a proteger os mais ricos. Esse fenômeno leva à axiomatização de que regimes autocráticos disfarçados de democracias estão proliferando cada vez mais.
Na tentativa de superar as limitações da hipótese de Kuznets e da explicação proposta por Piketty sobre o aumento da desigualdade nos séculos XVIII e XIX, Branko Milanovic apresenta três estágios no desenvolvimento desse fenômeno: o presente, abrangendo os últimos 25 anos; o período de crescimento econômico moderno ou pré-industrial; e finalmente, um retorno que inclui sociedades da etapa anterior. Com base nessa estrutura, o autor classifica os diversos padrões de mudança que identificou em forças tanto malignas quanto benignas, operando em sociedades tanto premodernas quanto modernas. Isso implica o estudo de sociedades com renda média estagnada e aquelas com renda média em ascensão, proporcionando uma visão mais completa das dinâmicas da desigualdade em contextos históricos diferentes.
Com seu extenso conjunto de dados, Branko Milanovic conclui seu texto projetando as possíveis tendências futuras da desigualdade. Esse exercício não apenas lança luz sobre as direções potenciais desse fenômeno global, mas também estabelece as bases para uma proposta de agenda destinada à sua redução global. Embora reconheça a persistência do capitalismo como sistema econômico no futuro, destaca que a desigualdade continuará sendo uma questão crucial. Milanovic aborda o impacto da desigualdade na democracia, observando que fenômenos como o populismo e o nativismo colocam um desafio de equilíbrio entre a globalização e esses movimentos. Essa análise sugere que a democracia está ameaçada na medida em que a desigualdade se intensifica, destacando a relevância da desigualdade no contexto das preocupações ecológicas atuais.
O autor respalda seus argumentos com uma análise econômica rigorosa e uma ampla gama de fontes, construindo uma base sólida para sua teoria. No entanto, o texto apresenta algumas fraquezas, como divagações discursivas que desviam a atenção da ideia central e julgamentos de valor que podem prejudicar a profundidade da análise. Além disso, a obra poderia se beneficiar de uma atenção maior a questões contemporâneas cruciais, como mudanças climáticas e o papel do setor financeiro na desigualdade. Embora Milanovic projete possíveis tendências futuras, a inclusão desses temas teria enriquecido ainda mais sua proposta. Isso fica evidente em argumentos que sugerem que a melhor maneira de reduzir a prostituição é alcançar a igualdade de renda ou ao rotular aqueles que expressam preocupações com as fronteiras globais e os limites ao crescimento econômico como hipócritas.
Outro aspecto em que o estudo apresenta fraquezas está relacionado com a tentativa de formular uma teoria geral que abranja sociedades tão diversas como as pré-industriais e as pós-industriais. Isso representa um desafio, pois a universalização dessa teoria pode gerar anacronismos que distorçam a compreensão tanto do passado quanto do presente, dadas as complexidades e estruturas específicas de cada período. Um exemplo ilustrativo é a compreensão limitada das mudanças tecnológicas, ao resumi-las em duas revoluções, enquanto a historiografia identificou entre quatro e seis desde o final do século XVIII. A falta de base teórico-histórica se aprofunda ao não especificar Milanovic a descrição do ponto de transição entre as ondas Kuznets de ascensão e queda sucessivas da desigualdade.
Em relação às mudanças climáticas, Milanovic mal menciona o assunto, relegando-o, apesar de os acadêmicos o considerarem uma força econômica significativa com impacto no século XXI, dada sua probabilidade catastrófica para a distribuição de renda em níveis estaduais e globais. Além disso, seu otimismo em relação ao setor financeiro limita sua análise sobre sua contribuição para a desigualdade e seu impacto nas sociedades. Em suas recomendações finais, ele levanta a possibilidade de uma maior migração, embora sugira diferenças relativamente pequenas que devem ser claramente definidas a nível legislativo. Esse enfoque revela que sua estrutura ética tende a ignorar questões associadas ao abuso no trabalho.
A interpretação do autor sobre a relação entre globalização e desigualdade também pode gerar ceticismo, pois a globalização tem sido objeto de análises que a interpretam não como a causa direta da desigualdade, mas como um fenômeno complexo no qual múltiplos fatores estão envolvidos, incluindo erros de política econômica e interferência governamental. Estudos argumentaram que propostas de intervenção em nível global e a confiança em soluções governamentais podem agravar os processos de diferenciação e desigualdade social, distorcendo os processos de escolha e troca natural dos indivíduos. Sob essa perspectiva, a confiança em soluções descentralizadas e na competição entre sistemas jurídicos e econômicos é preferível, pois permite que soluções mais eficientes e adaptativas surjam espontaneamente, em vez de depender de imposições globais que podem ignorar particularidades locais e distorcer o funcionamento do mercado.
Finalmente, a capacidade de medição proposta por Milanovic com o Elefante Gráfico é questionável, uma vez que, por ser uma medida agregada, pode não capturar a complexidade das interações individuais no mercado. Isso implica uma simplificação excessiva da realidade, ignorando a diversidade de situações e decisões individuais que contribuem para os resultados econômicos. No entanto, este livro não é apenas uma obra acadêmica, mas também um chamado à ação, desafiando os leitores a questionar suas percepções sobre a desigualdade e a considerar como as decisões, tanto local quanto internacionalmente, podem influenciar a configuração de um panorama econômico mais equitativo. O autor oferece uma contribuição essencial para o diálogo sobre um tema crucial que molda o destino de nossas sociedades interconectadas. Sua habilidade em apresentar conceitos complexos de maneira acessível torna este livro valioso tanto para acadêmicos quanto para leitores interessados em compreender os desafios enfrentados por nossa sociedade interconectada. Ele não apenas redefine toda a compreensão da desigualdade global, mas também oferece uma análise perspicaz que convida à reflexão e à tomada de posições que devem se materializar em mudanças, estabelecendo assim um padrão elevado na discussão sobre este tema crucial na era da globalização.
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